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quinta-feira

De “A Desobediência Civil” por Henry Thoreau


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Aceito com entusiasmo a máxima: “O melhor governo é o que governa menos”; e gostaria de vê-la em prática com a maior rapidez e de forma sistemática. Levada às últimas consequências, ela finalmente, ela finalmente equivaleria  a outra na qual também acredito: “O melhor governo é o que absolutamente não governa”; e quando os homens estiverem preparados para isso, este será o tipo de governo que terão. O governo na melhor das hipóteses é uma conveniência; mas a maioria dos governos algumas vezes são inconvenientes, e todo governo algum dia acaba por ser inconveniente.  As inúmeras objeções feitas a um exército permanente são graves e merecem prevalecer – e também devem ser feitas a um governo permanente. O governo em si – apenas a forma escolhida pelo povo para executar suas vontades – é igualmente propenso a abusos e desvios, antes que a maioria do povo possa agir por seus intermédios.
2
O governo norte-americano é uma espécie de arma de brinquedo para o próprio povo, e nem por isso deixa de ser necessário, pois o povo precisa ter um mecanismo complexo e ouvir seu ruído para satisfazer à própria noção do governo que possui. Assim os governos mostram como o homem pode ter sucesso em oprimir, e para proveito próprio, que também podem ser oprimidos, o que devemos admitir, é excelente. Contudo, este governo nunca incentivou uma iniciativa própria, mas apenas demonstrou vigor em apenas não atrapalhar iniciativas. Ele não mantem o país livre. Ele não coloniza o oeste. Ele não educa. O caráter inerente ao povo norte-americano que realizou a tudo isto, e teria feito ainda mais se o governo em alguns momentos não tivesse atrapalhado. Pois o governo é um artificio, por meio do qual os homens conseguiram de bom grado deixar em paz uns aos outros; e como já foi dito, sua conveniência máxima ocorre quando os governados são respeitados pelo governo.
3
Porém, para falar em termos práticos e como cidadão, ao contrário daqueles que se dizem antigovernistas, eu não peço a extinção do governo de imediato, mas sim imediatamente um governo melhor. Deixem que cada homem expresse o tipo de governo digno de seu respeito, e este já será um passo para que ele vigore.
Thoreau

4
Penso que devemos ser homens em primeiro lugar, e depois súditos. Não é desejável cultivar pela lei o mesmo respeito que temos pelo direito. A única obrigação que tenho o direito de assumir é a de fazer a qualquer momento aquilo que considero certo.  Diz-se com toda razão que uma corporação não possui consciência; mas uma corporação de homens conscientes é uma corporação com uma consciência. As leis nunca tornaram os homens mais justos; e pelo respeitos às normas, até os cidadãos de boa vontade tornaram-se diariamente agentes de injustiça.
5
Vim ao mundo não com o objetivo principal de torna-lo um lugar bom para viver, mas para viver nele, sendo bom ou ruim. Um homem não tem tudo, mas apenas algo a fazer; e por não fazer tudo, não é necessário que ele faça algo errado.
6
Sob um governo que prende qualquer pessoa injustamente, o verdadeiro lugar de um homem justo também é o cárcere. O lugar mais adequado atualmente, o único que Massachusetts providenciou para seus espíritos mais livres e menos desesperançados, é sua prisão, é ser preso e afastado do Estado por ação do Estado, assim como os homens que já haviam se afastado por seus princípios. É lá que o escravo fugitivo, o prisioneiro mexicano em liberdade condicional e o índio que vieram protestar contra as injustiças sofridas por suas raças o encontrarão; naquele espaço separado, porém mais livre e honrado, no qual o Estado coloca quem  está contra ele – a única morada num estado escravista no qual um homem pode permanecer com honra. Se alguém pensa que ele perderia seu poder de influência, que sua voz não afligiria mais os ouvidos do estado, que ele não seria um inimigo dentro de seus muros, então não sabe como a verdade tem mais força do que o erro, nem como um homem pode combater a injustiça com muito mais eloquência e eficácia quando ele mesmo dela já experimentou um pouco.
7
Quando o súdito recusar-se a ser leal ao governo e o funcionário se demitir do cargo, a revolução terá se consumado. Mas vamos supor que haja derramamento de sangue. Não há uma espécie de sangue derramado quando a consciência é ferida? Com essa ferida brota a verdadeira humanidade e a imortalidade de um homem, e ele sangra até a morte eterna.
8
Em termos absolutos, quanto mais dinheiro, menos virtude, pois o dinheiro coloca-se entre o homem e seus objetivos, e consegue-os para ele; e certamente não houve grande virtude em obter dinheiro. Isso resolve diversas questões que, caso contrário, ele seria obrigado a responder; a única pergunta nova que o dinheiro propõe é difícil, porém supérflua: como gastá-lo? Um homem fica assim sem base para a moralidade. As oportunidades de vida diminuem na mesma proporção que aumenta o que chamamos de “meios”. A melhor coisa que um homem pode fazer para sua cultura quando é rico é empenhar-se para pôr em prática os projetos que nutria quando pobre.
Casa de Thoreau "Walden"